sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Afinal, que diabos é fibromialgia?

Sempre que eu digo que tenho fibromialgia, as pessoas ficam surpresas. Algumas por nunca terem sequer ouvido falar nessa palavra e, outras, por falta de conhecimento, acham que é "doença" de gente velha (é bom deixar claro que a fibromialgia não é considerada uma doença, e sim uma condição clínica - se a pessoa vai ficar doente ou não por causa dela, aí vai depender de inúmeros outros fatores). Bom, ao contrário do que a maioria pensa, fibromialgia não é coisa de gente velha. Aproximadamente 90% dos casos são diagnosticados em pacientes entre 30 e 32 anos. Quando o primeiro médico me diagnosticou, eu tinha 32. Outro dado interessante: 3 em cada 10 mulheres têm (ou terão) fibromialgia - você pode ter e nem saber!

"Mas, afinal, que porra é essa, Pati?". Bom, para quem nunca ouviu falar em fibromialgia, eu vou explicar bem resumidamente, da mesma forma que meu médico me explicou e que considerei a mais lógica e clara possível. Fibromialgia nada mais é que uma hipersensibilidade a dor, que tem origem no Sistema Nervoso Central e é desencadeada nos músculos. Ou seja, por um erro de comando ou decodificação (e ninguém sabe ainda porque acontece esse erro de comunicação, mas acredita-se que os portadores não atinjam o "sono REM" - que é o sono mais profundo), o cérebro envia estímulos de dor para várias partes do corpo. Basicamente, a pessoa convive com a dor diariamente (e tem dias que é INSUPORTÁVEL), além do cansaço, pois a fadiga crônica é uma consequência de noites mal-dormidas. Não é à toa que algumas pessoas desenvolvem depressão - pois dormir mal, sentir-se esgotado todos os dias e ainda ter dor o tempo todo não é brincadeira! É enlouquecedor mesmo.

Mas como o problema é neurológico, a dor muscular torna-se invisível, pois não existe nenhum problema físico relacionado a ela - está tudo no SNC! Contudo, é importante ressaltar que A DOR NÃO É PSICOLÓGICA... a dor é real! Já foram feitos vários exames de tomografia, comparando pessoas normais com pessoas fibromiálgicas que, quando submetidas a uma mesma pressão mecânica, o cérebro respondia àquele estímulo de forma bem diferente. Basicamente, a pessoa fibromiálgica sente muito mais dor do que uma pessoa que não é portadora da fibromialgia.

"Mas, Pati, como que você descobriu que tinha fibromialgia?". Em fevereiro de 2014 eu comecei a perceber um inchaço estranho em uma articulação da mão e procurei um médico ortopedista especialista em mãos. Aí ele deu o diagnóstico de LER (ou DORT, como preferirem), me encaminhou para a fisioterapia e mandou um laudo para a instituição em que trabalho, indicando as alterações ergonômicas que seriam necessárias para eu continuar trabalhando (caso contrário, ele me afastaria). 

Bom, ocorreu que depois de 20 sessões de fisioterapia EU SÓ PIOREI. Parecia que, quanto mais mexiam em mim, mais locais de dor iam surgindo por todo o meu corpo. Então a equipe de fisioterapia que acompanhava o meu caso enviou uma cartinha ao médico, relatando o que elas observaram (pouquíssima evolução de melhora e outros pontos de dor que surgiram). O médico, então, fez algumas perguntas, tipo:
- Você é muito ansiosa?
- Acho que sim.
- Você tem ou já teve depressão?
- Não, isso nunca.
- Você costuma acordar cansada, com a sensação de que não dormiu?
- Frequentemente.
- Você sente dores musculares em várias partes do corpo?
- Sim.
- Senta ali atrás que eu vou te examinar... Se eu aperto aqui, dói?
- Sim...
- E aqui?
- Ai!
- Aqui?
- Ui!
- E assim?
- Aham!
- Certo. Volta aqui pra gente conversar... Patrícia, eu vou te encaminhar para um reumatologista, porque eu acho que o que você tem é fibromialgia!

Enfim, ele me explicou superficialmente do que se tratava, e pra mim não fez muito sentido, porque nunca fui uma pessoa triste ou depressiva e saí de lá com uma receita de Lyrica. Fui pesquisar no Google sobre fibromialgia e sobre o Lyrica, mas entrei nos piores lugares possíveis: os blogs das portadoras de fibromialgia que tomaram esse medicamento. É desesperador! Sério. Joguei a receita no lixo e fiquei negando o problema: "Não, eu não posso ter isso, eu não sou assim! Eu não vou tomar esta droga!". O tempo foi passando e minhas dores foram aumentando. Então, decidi ir conversar com o reumatologista a quem esse médico havia me encaminhado. Meu ex-marido foi junto, pois ele também discordara do diagnóstico do outro médico e queria ouvir uma segunda opinião, afinal, ele convivia comigo há 6 anos e sabia melhor do que ninguém que eu não tinha um perfil depressivo ("Muito pelo contrário, o humor dela é ótimo!" - disse o ex ao médico - mas de que adiantou, né? O casamento não deu certo nem com meu bom-humor, imagina se eu fosse mau-humorada, teria terminado no sexto mês... wherever... voltemos à fibromialgia).

Então veio a revelação: a depressão não está presente em todos os portadores de fibromialgia; "apenas" 50% dos casos estão relacionados à depressão. Ele me examinou clinicamente, pressionando os mesmos pontos de gatilho e disse:
- Olha, eu preciso dizer que, inicialmente, eu concordo com o diagnóstico do teu médico... mas antes de entrarmos com medicação, eu vou pedir alguns exames, para excluir outras doenças que podem confundir o diagnóstico ~preciso~.
Parênteses aqui (não existe diagnóstico preciso para fibromialgia, os exames são clínicos, apenas com pressão nos pontos de dor - ou seja, não existe um exame de sangue ou radiodiagnóstico que traga a informação: "positivo para fibromialgia" - o diagnóstico é, basicamente, pelo relato da paciente, pontos de dor e por exclusão de outras doenças que podem ser detectadas por exames laboratoriais).

Bom, fui lá, fiz todos os exames que ele solicitou, inclusive um que meu plano de saúde nem cobria e aí tive que pagar à parte (humpf!)... tudo normal! Voltei ao consultório do reumatologista com os resultados, ele me olhou e disse:
- Sendo assim, Patrícia, você só pode ter fibromialgia!

"Poxa, que foda, Pati! Você deve ter ficado arrasada!". Claro que não, a essa altura, eu já estava um pouco mais conformada com o diagnóstico, pois depois da primeira consulta, quando o médico me pediu aquela bateria de exames (e viu que EU NÃO QUERIA TER FIBROMIALGIA), ele me passou algumas informações dos lugares certos para pesquisar, como por exemplo, o site da Sociedade Brasileira de Reumatologia, onde tem disponível uma Cartilha sobre a fibromialgia, muito bem elaborada, por sinal, recomendo a leitura, pois explica direitinho. Ler esse material me tranquilizou bastante, pois ao mesmo tempo que finalmente descobri de onde vêm essas dores (sei que a dor é real, não é coisa da minha cabeça, sei que tem um nome pra isso), vi que não era a pior condição do universo, já que ninguém morre desse mal e existe tratamento.

Quando compreendemos o problema, a tranquilidade vem à tona. A fibromialgia não traz nenhum prejuízo físico ao corpo no longo prazo, como deformação dos membros. O problema não é físico/muscular, é apenas uma falha de comunicação entre "o Tico e o Teco". É por essa razão que a doença geralmente é controlada com o uso de antidepressivos, pois eles agem diretamente no Sistema Nervoso Central, impedindo que o cérebro envie para o corpo estímulos de dores que não existem.

Agora você deve estar me questionando: "Nossa, Pati, que merda... então você toma antidepressivo!?". Não tomo, não. "Meu deus, então você está sempre com dor?". Também não. "Caralho, então não entendi mais nada!". Calma... Acontece que existe uma substanciazinha mágica que nosso corpo produz, que é uma droga muito poderosa contra a dor (mais potente do que a morfina), mas que ainda não foi sintetizada em laboratório. Sabem qual? ENDORFINA.

E é exatamente sobre isso que irei falar no próximo texto... "Como a fibromialgia salvou minha vida".

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