quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Em Foz, eu aprendi*

Em Foz, eu aprendi que, até então, eu não sabia o que era calor de verdade. Em Foz, eu conheci a grandiosidade da Engenharia através de uma hidrelétrica. Em Foz, eu percebi que é normal as pessoas andarem a 40km/h na pista da esquerda e que, consequentemente, é natural ultrapassar um carro pela direita. Em Foz, eu aprendi que o transporte coletivo em Florianópolis não era tão ruim assim (pelo menos lá os ônibus têm bancos!). Em Foz, eu aprendi que as Cataratas são, de fato, uma das 7 maravilhas da natureza. Em Foz, eu entendi que a língua portuguesa deveria fazer parte da minha profissão. Foz me ensinou que a ditadura ainda existe em algumas instituições privadas. Em Foz, eu percebi que a concessionária de transporte urbano acredita que as pessoas daqui não sentem calor, pois não há ar-condicionado em nenhum ônibus. Em Foz, eu aprendi que a máxima “quem faz a faculdade é o aluno” é o clichê mais verdadeiro dos últimos tempos.

Em Foz, eu aprendi a amar Machado de Assis e Capitu. Em Foz, eu percebi que os ônibus articulados fazem falta. Aqui, eu percebi, paradoxalmente, o quanto minha família é importante para mim, e o quanto, para minha maturidade, é importante estar distante deles. Em Foz, eu aprendi que o churrasco argentino é muito melhor do que o gaúcho – e olhem que eu sou gaúcha! Em Foz, eu aprendi a ser professora, pois aqui eu tive grandes mestres que me ensinaram esta arte. Em Foz, eu tive que lecionar para uma turma de 80 adolescentes e, depois disso, descobri que posso fazer qualquer coisa. Em Foz, eu aprendi que toda comida tem que ter alho – muito alho! Em Foz, eu descobri que as estradas argentinas e paraguaias são muito melhores do que as brasileiras. Em Foz, eu aprendi a gostar de homus, sfiha, sushi e sashimi. Foi em Foz que eu senti “na pele”, pela primeira vez, o assédio moral no trabalho. Mas, em contrapartida, foi em Foz que eu aprendi quem são os meus amigos de verdade. Em Foz, eu aprendi que precisava fazer os que os outros NÃO FAZIAM para conseguir o que poucos conseguem. Em Foz, eu aprendi que “laranja” nem sempre é uma fruta e que "sopa paraguaia" não é sopa.

Em Foz, eu senti meu coração completamente despedaçado e fiquei sem chão... duas vezes! Foz fez-me entender qual era hora de ir embora, não para buscar a felicidade fora daqui, mas para, longe daqui, reencontrar a mim mesma. Em Foz, eu aprendi que a separação é, muitas vezes, boa e necessária, mas foi em Chapecó que eu aprendi a ser mais tolerante... foi lá que eu entendi que precisava voltar. Depois que voltei a Foz, eu aprendi que mudar de ideia e “voltar atrás” nem sempre é um retrocesso, e sim um passo à frente.
Foi em Foz que eu conquistei minha independência e onde eu aprendi que ser feliz só depende de mim mesma. Em Foz, eu aprendi muito e continuo aprendendo, dia após dia. Obrigada, Foz do Iguaçu, por me ensinar tanto!


* Texto escrito em Janeiro de 2014