segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Como amar (ou odiar) Machado de Assis

Este texto é especialmente para professores que trabalham literatura no ensino médio, mas também é para você, que já foi aluno de professores infelizes que cometeram a insanidade de fazê-lo acreditar que "Machado de Assis é um chato", simplesmente por ignorância ou abordagem equivocada. Aqui eu explico como é possível reverter isso. Todo mundo ganha! Eu garanto: ler Machado de Assis sempre será melhor do que não ler Machado de Assis.

Para quem não sabe, eis uma revelação (que nunca foi tão segredo assim em minha vida): eu odiava o Machado de Assis [música de suspense, "close" e pausa para intervalo]. Hoje eu faço mestrado em Literatura Comparada e, um dos autores que pesquiso é justamente o "Machadão" (por escolha minha e não por imposição do orientador). Quando fui reapresentada ao "bruxo do Cosme Velho" no contexto e na hora certos, eu simplesmente me apaixonei e não larguei mais dele.

Ele é o nosso maior patrimônio literário. Um gênio da palavra. Mas, assim como 90% dos brasileiros, eu fui obrigada a ler Dom Casmurro no colégio. Uma heresia, na minha opinião, que alguns docentes cometem até hoje. Já estive dos dois lados: fui aluna, como todo mundo nesta vida, mas também fui professora de literatura no ensino médio, e afirmo: submeter adolescentes de 15 anos a iniciar as leituras Machado de Assis a partir de seu romance mais polêmico é um crime! Nessa fase, eu jamais consegui passar da primeira metade do livro... dormia a cada 10 páginas.

#Primeiramente: Machado não é escritor para leitor precoce, a maioria de seus textos exigem uma certa maturidade e um conhecimento prévio de outros clássicos da literatura, uma vez que ele recorre frequentemente à intertextualidade para explicar determinadas situações da narrativa. Ao longo do romance Dom Casmurro, o leitor depara-se com referências a várias obras: A Divina Comédia, de Dante Aliguieri; a elementos da Mitologia Grega; à Bíblia Sagrada; Otelo, dentre outras. Para quem leu, no máximo, Harry Potter (e olhe lá!), é um estupro literário e linguístico!

Aos professores, faço uma súplica: MACHADO DE ASSIS NÃO É LITERATURA INFANTO-JUVENIL, então, POR FAVOR, parem de assassiná-lo! Ao obrigar pseudocrianças a ler seus romances, vocês matam o que há de melhor na nossa Literatura. Não cometam "machadicídio"!

A linguagem machadiana, além de não trazer um português contemporâneo, pois é do século 19, é bastante sofisticada, e o tema dos romances, geralmente é denso. Dom Casmurro trata do ciúme e menciona uma possível traição; em vários momentos, é feita uma análise psicopatológica das personagens, o que exige um nível de reflexão mais frequente em leitores maduros.

O mesmo raciocínio aplica-se a Memórias Póstumas de Brás Cubas (como simulou um amigo meu certa vez, fazendo as vezes de aluno do ensino médio: "'Memórias' até sei o que é... 'póstumas', não; e 'Brás Cubas' eu não sei quem é... então, não quero ler! Fim.") e a qualquer outro romance realista do gênio, pois um leitor desatento deixará passar até o que há de mais precioso em todo o conjunto da obra: a ironia machadiana ("Marcela amou-me durante 15 meses e 11 contos de réis").

Então, a menos que teu objetivo seja, de fato, traumatizar a molecada e fazê-los odiar Machado de Assis para todo o sempre (ou até que alguns entrem em algum curso de Letras e deparem-se com um professor de literatura brasileira ABENÇOADO e que consiga mudar essa triste realidade).

_ Mas, Pati, como fazer se esses romances ainda estão nas listas de leituras obrigatórias dos vestibulares mais importantes do país?
Honestamente, eu acho que isso está mudando já, mas enquanto não muda totalmente, podemos dar um "jeitinho". Bom, eu já dei a receita de como não fazer. E é bem fácil (até mesmo se você for um professor medíocre que nunca leu Machado, mas finge que leu para não ficar feio), basta obrigar a leitura dos romances, fingir que o tema central de Dom Casmurro é o mistério "traiu ou não traiu?", pede um resumo idiota e dá só "visto" para todo mundo, faz perguntas óbvias na prova, fica chovendo no molhado, você finge que ensina, os alunos fingem que aprendem e, no final do mês, o teu salário cai na tua conta da mesma forma, sem um esforço extra. Essa é a via mais rápida, menos dolorida e, por isso, a preferida pela maioria dos "professores de literatura".

Mas se você realmente quer fazer a diferença na vida desses "serumaninhos", ou se você foi vítima de "machadicídio" e quer ressuscitar esse autor na sua biblioteca pessoal, faça esse trabalho mais lentamente e comece pelos contos do escritor. Dedique-se a conhecer os contos. Dedique-se a conhecer a obra de Machado de Assis. Machado está muito além de Dom Casmurro e Memórias Póstumas. Eu arriscaria dizer (e não estou sozinha nisso, vários críticos literários renomados concordam comigo) que as verdadeiras obras-primas do nosso mestre estão em seus contos.

Mas é uma seleção que dá trabalho, afinal, são mais de 200 títulos. Comece pelos clássicos: A Carteira, A Cartomante, Pai contra Mãe, O Espelho. Somente quando sentir que a linguagem não é mais tediosa, parta para O Alienista. Explore bem esse último, pois é um conto longo e muito rico. Somente depois disso, e somente se sentir que não gerará trauma literário, você poderá partir para Dom Casmurro e Memórias Póstumas.

Mas eu recomendo ir com cautela. Eu somente indicaria esses romances para quem realmente gosta de ler e/ou já passou ou está próximo dos 30 anos, pois aproveitará e apreciará a leitura na sua totalidade.

Sigam este caminho e apaixonem-se comigo! Sejam bem-vindos ao universo machadiano!

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O que a mulher de 30 sabe

Hoje, resolvi escrever este texto após uma conversa muito boa que tive com um amigo, uma conversa que me fez refletir sobre alguns acontecimentos do passado que me aborreceram, mas que me ensinaram muito.

Hoje, eu finalmente percebi que muitas pessoas já conseguiram mudar o que eu sentia por elas, mas não conseguiram mudar o que sinto por mim — pois posso afirmar com convicção que, HOJE, o que sinto por mim mesma é inabalável. É indescritível esta sensação de felicidade, de quando você olha para dentro de si mesma e gosta do que vê. São coisas que somente o tempo e a maturidade proporcionam. Então comecei a pensar no quanto eu mudei nos últimos 3 anos... depois de virar balzaquiana.

Depois dos 30, a gente aprende que viajar e tirar férias sozinha pode ser surpreendente e que isso pode trazer descobertas maravilhosas sobre nossa própria pessoa.

Depois dos 30, a gente aprende que a melhor época da nossa vida é agora e que esta é nossa melhor versão de nós mesmas.

Depois dos 30, a gente aprende que, quando a gente se ama acima de tudo e de todos, ninguém consegue mudar o que sentimos por nós mesmas.

Depois dos 30, a gente aprende que, quando estamos sós, estamos na melhor companhia possível.

Depois dos 30, a gente aprende que ter alguém é fantástico, mas que o amor de outra pessoa não é a coisa mais importante nesta vida.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quão maravilhosa sejamos, nem sempre “aquele cara” estará preparado para viver ao lado de uma mulher assim.

Depois dos 30, a gente aprende que não vale a pena manter um relacionamento por preguiça de conhecer outras pessoas.

Depois dos 30, a gente aprende que o nosso comodismo custa caro, custa muito caro: custa o nosso tempo — e o tempo desperdiçado jamais voltará.

Depois dos 30, a gente aprende que desistir de algo, muitas vezes, é só para os fortes, pois nem tudo vale a nossa luta e poucos conseguem distinguir isso. Não sei nem se trata-se de uma desistência, estaria mais para uma mudança de paradigma.

Depois dos 30, a gente aprende que autoestima, autoconhecimento e autoconfiança são diferentes pontas de um mesmo nó. Uma mulher bem resolvida, segura de si, só é assim porque aprendeu a amar-se.

Depois dos 30, a gente aprende a deixar de desejar o outro quando o que desejamos está muito além do que este tem para nos oferecer.

Depois dos 30, a gente aprende que viver longe da família é dolorido, mas que isso nos faz evoluir mais rapidamente.

Depois dos 30, a gente aprende que tudo tem seu tempo certo e que, muitas vezes, é preciso dar um passo para trás para, depois, dar dois passos à frente.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quanto as coisas deram errado, sempre teremos a oportunidade de um recomeço.

Depois dos 30, a gente aprende que amigos de verdade nunca saem das nossas vidas, mesmo que a distância nos separe por anos, mas aprendemos que temos que deixar a porta sempre aberta para a chegada de novos amigos.

Depois dos 30, a gente aprende que amar o outro mais do que a nós mesmos só nos traz dor e sofrimento.

Depois dos 30, a gente aprende que mais vale viver somente com um gato e um cão e ser feliz, do que estar em um relacionamento falido só para manter o status no Facebook.

Depois dos 30, a gente aprende que um casal, para funcionar, precisa "viver como um casal", e não como dois colegas de quarto que dividem as despesas e os afazeres domésticos.

Depois dos 30, a gente aprende que a amizade é um amor mais sincero do que o amor romântico. A amizade não exige exclusividade, a amizade sobrevive mesmo a distância, a amizade não faz cobranças sem fundamento; seus amigos nunca irão vasculhar seus e-mails, redes sociais, computador ou seu smartphone em busca de pistas de infelicidade infidelidade.

Depois dos 30, a gente aprende que praticar uma atividade física regularmente pode ser bem prazeroso.

Depois dos 30, a gente aprende que não vale a pena desperdiçar nosso amor com uma pessoa que não pode nos amar.

Depois dos 30, a gente aprende que "a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional", e que só algumas coisas (e raras pessoas) merecem nosso sofrimento.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quanto a Capitu seja inocente, sempre vai ter um Bentinho para achar o Ezequiel a cara do Escobar... porque as pessoas só veem aquilo que elas querem ver.

Depois dos 30, a gente aprende que, não importa o quanto alguém nos feriu e o quanto estamos desacreditas do amor, sempre poderemos nos apaixonar de novo e nos estrepar de novo. Mas, tudo bem, afinal, superar uma desilusão está bem mais fácil agora, depois que aprendemos tantas coisas.

Depois dos 30, a gente aprende que ser feliz só depende de nós mesmas.

sábado, 21 de novembro de 2015

Como a fibromialgia salvou minha vida

Quando recebi o diagnóstico de fibromialgia, eu tive duas opções: ou me entregar a ela e deixar que ela me derrubasse (eu poderia estar aqui me vitimizando, falando o quanto o medicamento que eu uso me faz mal, mas em como é doloroso ficar sem ele e mimimi), ou aprender com ela e fazer com que isso me tornasse uma pessoa melhor, mais forte, mais ativa e mais saudável. Fiquei com a segunda opção. 

O nosso problema sempre é do tamanho que enxergamos. Se você der muita importância a um problema, ele tomará conta de ti. Eu escolhi dar uma banana para a fibromialgia. Esqueça que você tem isso: levante a bunda da cadeira e vá se exercitar! Aposto que, assim como eu, descobrirá uma nova vida. Eu era totalmente sedentária e, mudando apenas esse hábito, todo o resto ao meu redor se transformou... quer saber como? Continue lendo e você ficará impressionado com o poder da atividade física.

Como toda criança, eu era muito ativa. Corria, brincava, subia em árvores, andava de bicicleta, de patins... mas sempre detestei esportes com bola. Cheguei a pegar recuperação em educação física, porque eu tinha trauma de levar boladas na cara. Sempre usei óculos e, se os tirasse para jogar, não enxergava bem. Se ficasse com eles, poderia me machucar. Então, tornei-me avessa a vôlei, basquete, futebol e tudo mais que envolvesse pessoas disputando uma bola. Não quero, com isso, justificar o meu sedentarismo, mas acho que, como não aprendi a apreciar e nunca pratiquei nenhum esporte desse tipo, acabei me tornando uma adulta sedentária, pois me criei em uma cidade muito pequena, que oferecia poucas opções de esporte e lazer.

Como quase todo ser humano, me adaptei bem ao sedentarismo (neste vídeo, o Dráuzio Varella explica por que as pessoas não conseguem praticar atividade física) e fiquei totalmente sedentária por mais da metade da minha vida. Tentei frequentar academia algumas vezes, sem sucesso. Odeio o ambiente de academia, acho musculação um saco e não vejo sentido em esteira e bicicletas ergométricas... me sinto muito ratinho de laboratório quando estou nesses aparelhos. Quando morei em Floripa, tentei praticar natação, mas escolhi um horário com o qual não me adaptei e acabei largando o esporte. 

Quando eu descobri, mais ou menos em abril de 2014, que eu era portadora de fibromialgia (neste outro texto eu explico como foi esse processo), o médico disse que eu teria que tomar antidepressivos ou então praticar atividade física TODOS OS DIAS. Lembro como se fosse hoje: ele me explicou que quanto mais prazer a pessoa sente com a atividade que pratica, mais endorfina o corpo produz, portanto, a eficácia do exercício no combate à dor é diretamente proporcional ao prazer que sentimos com aquela atividade. Nessa hora, pensei: estou ferrada, não gosto de nada! Pela cara que eu fiz, o médico já imaginou que isso seria difícil, então me perguntou: "Você não gosta de academia, né? Mas você deve gostar de alguma coisa... você só não se lembra! O que você gostava de fazer quando era criança?". Lembrei que gostava de patinar... No mês seguinte, comprei um par de patins.

Lembrei que no final de 2013, quando estava de férias em João Pessoa, fiquei encantada com aquela ciclovia na orla da praia de Cabo Branco e vi algumas pessoas patinando, algo que eu não via há muito tempo. Lembrei do quanto eu gostava disso quando era criança e, na época, até falei para o meu ex-marido: "Quando a gente chegar em Foz, vou comprar patins e vou começar a praticar", ele respondeu: "Mas lá não tem lugar adequado para isso!". E é verdade. Não tem mesmo. Então, deixei pra lá e esqueci da ideia. Acontece que, quando queremos (ou quando precisamos - lembrem que, ou era isso, ou os antidepressivos), a gente dá um jeito. Não existe um parque em Foz do Iguaçu com uma pista lisa e plana para patinação, mas a rua onde eu morava tinha acabado de ser pavimentada, então era lá mesmo que eu praticava. Comecei patinando duas vezes por semana, depois aumentei para 3, 4... E fui sentindo, pouco a pouco, uma melhora nas dores. 

Quando o verão chegou, a coisa se complicou um pouco, pois em Foz do Iguaçu é comum fazer 45 graus. Como no horário de verão o sol se põe quase às 21h, muitas vezes a sensação térmica à noite passava dos 35 graus... Algumas vezes, tentei patinar, mas o asfalto estava começando a liberar o calor que passou o dia todo absorvendo. Tornou-se inviável a minha atividade física. Então pensei: "Preciso de uma atividade física indoor!". Comprei um Xbox e comecei a dançar zumba em casa. Por uns três meses funcionou que é uma beleza, depois comecei a ficar de saco cheio. Em janeiro de 2015 procurei uma academia e me matriculei na natação. 
- Patrícia, qual é o teu principal objetivo na natação?
- Praticar atividade física sem sentir calor.
- Hehehe... Sério mesmo? A maioria das pessoas respondem "aprender a nadar" ou "perder peso"...
- Ah, sim! Perder peso seria ótimo também. Mas, pra mim, o principal é manter uma atividade física regular sem sentir os efeitos deste verão lazarento!

Comecei a nadar três vezes por semana. Em fevereiro, comprei uma bicicleta e, nos dias que eu não tinha natação, eu andava de bike, dançava ou patinava, de acordo com o que o clima permitia.
Mas nunca antes, em toda a minha vida, senti tanto prazer com uma atividade física quanto sinto com a natação. Muitas vezes eu saía da academia tão cheia de endorfina, que era tomada por uma sensação de euforia quase que incontrolável. Eu nunca faltava às aulas e meu corpo foi tomando outra forma, passei a gostar mais do que via no espelho e, consequentemente, a gostar e querer cuidar mais de mim e da minha aparência. Como eu estava super disciplinada com a minha atividade física, não queria estragar tudo comendo besteira, passei a cuidar mais da alimentação e comecei uma reeducação alimentar com a ajuda de uma nutricionista. Uma coisa foi levando à outra. Minha autoestima foi melhorando, passei a gostar mais de mim do que de qualquer outra pessoa no mundo, então rompi um relacionamento de 7 anos, que já não estava mais dando certo, e fui morar sozinha, só com meus dois bebês peludos. 

Hoje moro em uma casa um pouco menor, com a Envy e com o Gatão, conheci outras pessoas, tive outros relacionamentos, tenho vizinhos ótimos, que hoje são a minha família aqui em Foz. Tenho um espaço só meu, comprei os móveis que eu queria, da cor que eu queria, do jeito que eu queria. Estou pesquisando modelos de sofás de pallets para a sala e de outros móveis com material reciclável para a área de lazer externa. Hoje, meu maior dilema pessoal é escolher a cor da tinta que vou usar para pintar a madeira dos pallets. Vivo sozinha e me sustento sozinha. Descobri em mim a melhor companhia para mim mesma e, pela primeira vez em 34 anos, fiz uma viagem sozinha. Gostei tanto que, no dia seguinte ao meu retorno, já comprei passagens para a próxima viagem.

O que isso tem a ver com a fibromialgia? Tudo! Se não fosse por ela, eu jamais teria saído do meu sedentarismo, jamais descobriria o quão prazeroso pode ser nadar, pedalar, patinar. Sem isso, eu continuaria vivendo a minha vida sem olhar muito para o espelho e talvez demorasse mais para perceber o quão interessante pode ser uma mulher que saiu cedo da casa dos pais, ralou muito para passar em um concurso público e hoje é dona do seu próprio nariz, só corrigindo os textos das pessoas. A atividade física, além de me livrar das dores da fibromialgia, trouxe minha autoestima de volta, a qual estava meio esquecida em algum lugar dentro de mim, quando aceitei a viver uma vida que não era minha, era de outra pessoa - a quem amei muito e com quem tive a oportunidade de amadurecer demais da conta, mas que não estava mais dando certo como casamento.

Escolhi que, ao invés de comprar duas caixas de antidepressivos, eu pagarei a mensalidade da natação: esse é o meu remédio! Essa é a minha paixão. E, o melhor de tudo: é uma atividade física que poderei praticar a vida toda, pois não existe restrição de idade (ao contrário da bike e dos patins, que, conforme a idade avançar, terei de deixar de lado, devido ao risco de quedas).

O bem-estar que um estilo de vida saudável, uma alimentação balanceada e a prática regular de uma atividade física proporcionam é imensurável. Se você se apaixonar pelo que faz, é fácil manter a disciplina, pois o exercício deixa de ser uma obrigação e passa a ser um prazer. Quando estou na água, é o meu momento, não penso em mais nada e em ninguém, apenas na minha respiração, nos meus batimentos cardíacos, nos meus novos recordes... A mente fica totalmente alheia aos problemas do mundo, vazia, e a sensação de relaxamento que a água proporciona me faz sentir a pessoa mais feliz do mundo. Para mim, é impossível ter depressão nadando! Ao sentir todas essas coisas incríveis eu fui descobrindo uma força interior que eu desconhecia. Bem que dizem que a melhor fase da vida da mulher é após os 30 anos! Me livrei de pensamentos negativos que tinha a respeito dos outros e de mim mesma, percebi que a minha felicidade e o meu bem-estar dependem única e exclusivamente de mim. E uma vez que descobrimos isso, empoderamo-nos, e ninguém, idiota nenhum é capaz de mudar o que sentimos por nós mesmas. 

Fui percebendo que a vida é feita de pequenos momentos felizes e que, uma vez que sabemos quem somos, o que os outros pensam de nós não nos diz respeito. Quando você cuida de si mesmo e da sua saúde, aprende a se amar mais - e esse é o único caso de amor eterno que vale à pena cultivar e acreditar na vida, porque o amor que vem dos outros pode ir embora com eles, mas aquele que vem de dentro de si mesmo é para a vida toda. Isso sem mencionar que "nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo". 

Obviamente que estar apaixonada é maravilho e estar com alguém pode ser fantástico, mas é preciso ficar atento e sempre praticar aquele "egoísmo saudável": saber gostar de si mesmo mais do que gosta do outro. A atividade física me ensinou isso. A fibromialgia me proporcionou esta vida que tenho hoje. Se hoje eu me vejo com essa clareza, é porque eu fui forçada a mudar. Obrigada, fibromialgia! Você me trouxe dor, mas trouxe também autoconhecimento! Sempre dizia aos meus alunos que não existe sabedoria sem dor, pois a "dor" está dentro da sabedoria. Todo o conhecimento que carregamos são fruto do nosso esforço, da nossa dedicação, às vezes do nosso sofrimento.

Então, um brinde às nossas dores, que nos deram nossa experiência! Um brinde à fibromialgia! Tim-tim!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Afinal, que diabos é fibromialgia?

Sempre que eu digo que tenho fibromialgia, as pessoas ficam surpresas. Algumas por nunca terem sequer ouvido falar nessa palavra e, outras, por falta de conhecimento, acham que é "doença" de gente velha (é bom deixar claro que a fibromialgia não é considerada uma doença, e sim uma condição clínica - se a pessoa vai ficar doente ou não por causa dela, aí vai depender de inúmeros outros fatores). Bom, ao contrário do que a maioria pensa, fibromialgia não é coisa de gente velha. Aproximadamente 90% dos casos são diagnosticados em pacientes entre 30 e 32 anos. Quando o primeiro médico me diagnosticou, eu tinha 32. Outro dado interessante: 3 em cada 10 mulheres têm (ou terão) fibromialgia - você pode ter e nem saber!

"Mas, afinal, que porra é essa, Pati?". Bom, para quem nunca ouviu falar em fibromialgia, eu vou explicar bem resumidamente, da mesma forma que meu médico me explicou e que considerei a mais lógica e clara possível. Fibromialgia nada mais é que uma hipersensibilidade a dor, que tem origem no Sistema Nervoso Central e é desencadeada nos músculos. Ou seja, por um erro de comando ou decodificação (e ninguém sabe ainda porque acontece esse erro de comunicação, mas acredita-se que os portadores não atinjam o "sono REM" - que é o sono mais profundo), o cérebro envia estímulos de dor para várias partes do corpo. Basicamente, a pessoa convive com a dor diariamente (e tem dias que é INSUPORTÁVEL), além do cansaço, pois a fadiga crônica é uma consequência de noites mal-dormidas. Não é à toa que algumas pessoas desenvolvem depressão - pois dormir mal, sentir-se esgotado todos os dias e ainda ter dor o tempo todo não é brincadeira! É enlouquecedor mesmo.

Mas como o problema é neurológico, a dor muscular torna-se invisível, pois não existe nenhum problema físico relacionado a ela - está tudo no SNC! Contudo, é importante ressaltar que A DOR NÃO É PSICOLÓGICA... a dor é real! Já foram feitos vários exames de tomografia, comparando pessoas normais com pessoas fibromiálgicas que, quando submetidas a uma mesma pressão mecânica, o cérebro respondia àquele estímulo de forma bem diferente. Basicamente, a pessoa fibromiálgica sente muito mais dor do que uma pessoa que não é portadora da fibromialgia.

"Mas, Pati, como que você descobriu que tinha fibromialgia?". Em fevereiro de 2014 eu comecei a perceber um inchaço estranho em uma articulação da mão e procurei um médico ortopedista especialista em mãos. Aí ele deu o diagnóstico de LER (ou DORT, como preferirem), me encaminhou para a fisioterapia e mandou um laudo para a instituição em que trabalho, indicando as alterações ergonômicas que seriam necessárias para eu continuar trabalhando (caso contrário, ele me afastaria). 

Bom, ocorreu que depois de 20 sessões de fisioterapia EU SÓ PIOREI. Parecia que, quanto mais mexiam em mim, mais locais de dor iam surgindo por todo o meu corpo. Então a equipe de fisioterapia que acompanhava o meu caso enviou uma cartinha ao médico, relatando o que elas observaram (pouquíssima evolução de melhora e outros pontos de dor que surgiram). O médico, então, fez algumas perguntas, tipo:
- Você é muito ansiosa?
- Acho que sim.
- Você tem ou já teve depressão?
- Não, isso nunca.
- Você costuma acordar cansada, com a sensação de que não dormiu?
- Frequentemente.
- Você sente dores musculares em várias partes do corpo?
- Sim.
- Senta ali atrás que eu vou te examinar... Se eu aperto aqui, dói?
- Sim...
- E aqui?
- Ai!
- Aqui?
- Ui!
- E assim?
- Aham!
- Certo. Volta aqui pra gente conversar... Patrícia, eu vou te encaminhar para um reumatologista, porque eu acho que o que você tem é fibromialgia!

Enfim, ele me explicou superficialmente do que se tratava, e pra mim não fez muito sentido, porque nunca fui uma pessoa triste ou depressiva e saí de lá com uma receita de Lyrica. Fui pesquisar no Google sobre fibromialgia e sobre o Lyrica, mas entrei nos piores lugares possíveis: os blogs das portadoras de fibromialgia que tomaram esse medicamento. É desesperador! Sério. Joguei a receita no lixo e fiquei negando o problema: "Não, eu não posso ter isso, eu não sou assim! Eu não vou tomar esta droga!". O tempo foi passando e minhas dores foram aumentando. Então, decidi ir conversar com o reumatologista a quem esse médico havia me encaminhado. Meu ex-marido foi junto, pois ele também discordara do diagnóstico do outro médico e queria ouvir uma segunda opinião, afinal, ele convivia comigo há 6 anos e sabia melhor do que ninguém que eu não tinha um perfil depressivo ("Muito pelo contrário, o humor dela é ótimo!" - disse o ex ao médico - mas de que adiantou, né? O casamento não deu certo nem com meu bom-humor, imagina se eu fosse mau-humorada, teria terminado no sexto mês... wherever... voltemos à fibromialgia).

Então veio a revelação: a depressão não está presente em todos os portadores de fibromialgia; "apenas" 50% dos casos estão relacionados à depressão. Ele me examinou clinicamente, pressionando os mesmos pontos de gatilho e disse:
- Olha, eu preciso dizer que, inicialmente, eu concordo com o diagnóstico do teu médico... mas antes de entrarmos com medicação, eu vou pedir alguns exames, para excluir outras doenças que podem confundir o diagnóstico ~preciso~.
Parênteses aqui (não existe diagnóstico preciso para fibromialgia, os exames são clínicos, apenas com pressão nos pontos de dor - ou seja, não existe um exame de sangue ou radiodiagnóstico que traga a informação: "positivo para fibromialgia" - o diagnóstico é, basicamente, pelo relato da paciente, pontos de dor e por exclusão de outras doenças que podem ser detectadas por exames laboratoriais).

Bom, fui lá, fiz todos os exames que ele solicitou, inclusive um que meu plano de saúde nem cobria e aí tive que pagar à parte (humpf!)... tudo normal! Voltei ao consultório do reumatologista com os resultados, ele me olhou e disse:
- Sendo assim, Patrícia, você só pode ter fibromialgia!

"Poxa, que foda, Pati! Você deve ter ficado arrasada!". Claro que não, a essa altura, eu já estava um pouco mais conformada com o diagnóstico, pois depois da primeira consulta, quando o médico me pediu aquela bateria de exames (e viu que EU NÃO QUERIA TER FIBROMIALGIA), ele me passou algumas informações dos lugares certos para pesquisar, como por exemplo, o site da Sociedade Brasileira de Reumatologia, onde tem disponível uma Cartilha sobre a fibromialgia, muito bem elaborada, por sinal, recomendo a leitura, pois explica direitinho. Ler esse material me tranquilizou bastante, pois ao mesmo tempo que finalmente descobri de onde vêm essas dores (sei que a dor é real, não é coisa da minha cabeça, sei que tem um nome pra isso), vi que não era a pior condição do universo, já que ninguém morre desse mal e existe tratamento.

Quando compreendemos o problema, a tranquilidade vem à tona. A fibromialgia não traz nenhum prejuízo físico ao corpo no longo prazo, como deformação dos membros. O problema não é físico/muscular, é apenas uma falha de comunicação entre "o Tico e o Teco". É por essa razão que a doença geralmente é controlada com o uso de antidepressivos, pois eles agem diretamente no Sistema Nervoso Central, impedindo que o cérebro envie para o corpo estímulos de dores que não existem.

Agora você deve estar me questionando: "Nossa, Pati, que merda... então você toma antidepressivo!?". Não tomo, não. "Meu deus, então você está sempre com dor?". Também não. "Caralho, então não entendi mais nada!". Calma... Acontece que existe uma substanciazinha mágica que nosso corpo produz, que é uma droga muito poderosa contra a dor (mais potente do que a morfina), mas que ainda não foi sintetizada em laboratório. Sabem qual? ENDORFINA.

E é exatamente sobre isso que irei falar no próximo texto... "Como a fibromialgia salvou minha vida".

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Matem suas baratas!

Aos 18 anos, deixei a casa dos meus pais, em Ijuí, fui dividir apartamento com 4 pessoas totalmente desconhecidas em Santa Maria e pude experienciar a incrível, maravilhosa e dolorosa sensação de ver-se totalmente sozinho no mundo. Embora eu tenha demorado para morar sozinha de verdade (sempre dividia a casa com outras pessoas), morar em república me proporcionou muitas dinâmicas e possibilidades de relacionamento, com as quais aprendi muito, mas poucas vezes eu tive a oportunidade de conviver apenas comigo mesma. Exceto agora, só morei sozinha MESMO durante 6 meses, em Florianópolis. E, vejam bem... já saí da casa dos pais há 16 anos (já tem um tempinho, né?)! Posso dizer, sem medo de errar, que se hoje consigo me dar bem com tanta gente e trabalhar bem em equipe, é pelo fato de ter morado com aproximadamente 30 pessoas ao longo da minha vida, todas bem diferentes entre si.

No primeiro ano longe da casa dos pais, descobri que lavar roupa branca e colorida juntas não dava um bom resultado e que toalhas de banho não deveriam ser misturadas com roupas pretas. Cozinhar o básico eu já sabia, minha mãe sempre fez questão de me ensinar, então com essa parte eu não sofri tanto. Aprendi que quando um chuveiro queima, não precisamos comprar outro, é só trocar a resistência - não aprendi a trocar, não! Não cheguei nesse nível ainda... mas descobri que existe essa possibilidade, coisa que, acreditem, eu não sabia antes de sair de casa. Aprendi que a roupa não se estende sozinha e perdi a conta de quantas vezes precisei lavar tudo de novo porque simplesmente esquecia a roupa molhada dentro da máquina (hoje, felizmente, não tenho esse problema, pois minha máquina seca as roupas).

No segundo ano morando fora da casa dos meus pais, aprendi a separar as roupas, fazer brigadeiro, coquetéis com vodka e bolo de cenoura. Nesse período, ganhei a fama de fazer o melhor strognoff do Sul do mundo e também o melhor chandelle. Já o bolo de cenoura, esse só acertei uma vez, mas ficou tão perfeito, que até hoje o Thiago (o amigo que chamei para comer o bolo) acredita que sou uma baita cozinheira (coitado).

Só depois de morar sozinha, eu entendi a diferença entre furadeira e parafusadeira. Mas não tenho nenhuma das duas ainda, apenas um joguinho de chaves intercambiáveis e já me acho muito "macho" por isso. Mas de todas as coisas "de homem" que uma mulher precisa fazer quando mora sozinha, a pior delas, pra mim, sem sombra de dúvidas, é ter que matar baratas! Sério. Eu já pedi para o meu pai me ensinar a trocar tomadas, porque é algo que eu realmente sinto falta de manjar... mas matar barata é "uó". E eu só estou escrevendo este texto idiota porque acabei de ter que fazer isso. Trocar tomada é uma escolha. Matar baratas, não. A barata fica passeando na tua frente por minutos a fio e você se vê obrigado a agir. Não é uma escolha, é uma necessidade.

Tirando as coisas práticas e cotidianas da vida, o que a gente aprende quando vai morar sozinho é, basicamente, que o mundo nem sempre é legal conosco. Meu pai não estava lá para me defender dos caras mal-intencionados que se aproximavam para se aproveitar de mim, nem para intimidar os bonzinhos perguntando qual era a intenção deles comigo. Quando eu ficava doente, não tinha minha mãe para fazer uma canja e cuidar de mim e eu precisava lembrar sozinha dos horários dos remédios, que eu mesma tinha que ir à farmácia para comprar. Se eu passasse mal no meio da noite (e aconteceu muito, pois eu sofria de gastrite), não tinha ninguém para me levar ao hospital... o jeito era chamar um táxi ou, até mesmo, ir a pé (estudante vive numa pindaíba, né?). Teve uma vez que me deram tanto remédio e eu saí do HU tão drogada, que nem sei quem foi que me levou pra casa! A única coisa que lembro é de ter deitado na maca do hospital e acordado na minha cama, aparentemente intacta (e as meninas que moravam comigo nem ouviram quando eu cheguei).

Hospitais... esta foi outra razão pela qual me peguei pensando no assunto "morar sozinha" hoje. Acordei com uma tosse muito incômoda, que não me deixou ir trabalhar. Liguei para o Centro Clínico e agendei uma consulta com o médico de minha confiança. Aí uma das minhas tias me disse, no whatsapp: "Toma uma canja, Pati". Eu mal tinha forças para levantar da cama para ir ao banheiro, fazer uma canja estava fora de cogitação... é nessas horas que percebemos que estamos sozinhos mesmo. Quando eu decidi, em maio deste ano, que eu queria me separar do meu ex-marido, com quem vivi por sete anos, eu esqueci de colocar "na balança" a canja que ele fazia pra mim quando eu ficava doente - huahuahuahuahuahuahua!!!!

Brincadeiras à parte, se tem algo que eu aprendi neste tempo vivendo apenas comigo mesma é que existe uma diferença muito grande entre ser sozinho e ser solitário. Viver sozinho é uma escolha, ser solitário vai depender da relação que você estabelece consigo mesmo e como encara o fato de viver só. Felizmente, ou infelizmente, eu passei por muitas coisas em meu casamento que me obrigaram a apreciar a minha própria companhia - nem sempre foi assim, pois eu já fui um pouco insegura e achava que, para ser feliz, precisava de alguém ao meu lado. Mas de 2013 para cá, eu fui aprendendo a gostar mais de ficar sozinha na medida em que minha autoestima foi sendo resgatada, ainda dentro do meu antigo relacionamento. Quando eu finalmente percebi que eu me bastava, não fazia mais sentido manter aquela união.

Aprendi que nem sempre ter um companheiro significa que você terá uma companhia, pois existem muito mais coisas entre o céu e a terra, entre o ser humano e os relacionamentos, do que sonha nossa vã filosofia. Entendi, então, que eu já estava sozinha há algum tempo, só faltava eu assumir aquilo para mim mesma, pois muitas vezes ficamos em um relacionamento por comodismo, por costume, por preguiça de ter que conhecer outra pessoa depois, por covardia, por receio de ficarmos sozinhos, por não sabermos colocar um ponto final na pontuação da vida.

Já enfrentei muitos medos por escolher morar sozinha e, pior ainda, LONGE de toda a minha família. Já tive medo de morrer sozinha na maca de um hospital; já tive medo de ser estuprada quando voltava para casa sozinha à noite e um cara estranho, que estava no ônibus, desceu no mesmo ponto que eu e começou a me seguir; já tive medo de terminar um relacionamento e não gostar mais de outra pessoa tanto quanto gostava dele; já tive medo de perder o emprego, não ter mais como me sustentar e precisar voltar para a casa dos meus pais; já tive medo por ter me envolvido com um psicopata; já tive medo de estar grávida de um cara que não me amava. Já passei por muita coisa nesta vida e enfrentei, sozinha, todos esses medos. Sozinha! Eu costumo dizer que, quando saímos de casa, a gente amadurece na marra.

Aí algumas pessoas me dizem: "Nossa, mas como tu tem sorte de ter amigos assim, vizinhos assim...". Não. Eu não tenho sorte: eu tenho coragem! Se eu não tivesse a força de vontade que eu tenho e a coragem que eu tenho, eu ainda estaria em Ijuí, morando e trabalhando com meus pais e jamais teria sequer precisado matar uma barata. Outros já me disseram: "Nossa, mas você foi para Floripa sem ter ninguém lá! Você é muito destemida!". Mentira. Eu tenho medo como qualquer outra pessoa, a diferença entre mim e os outros é que eu enfrento todos os meus medos e posso garantir que vale a pena superar-se. Hoje, não tenho mais medo de estar longe da minha família, não tenho medo de ficar sozinha, nem de ruídos estranhos na casa à noite. Hoje, pra mim, tanto faz morar em casa ou apartamento, afinal, aprendi a enfrentar meus medos...

Então, enfrentem seus medos: peguem suas sandálias havaianas e comecem agora mesmo a matar suas baratas!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Em Foz, eu aprendi*

Em Foz, eu aprendi que, até então, eu não sabia o que era calor de verdade. Em Foz, eu conheci a grandiosidade da Engenharia através de uma hidrelétrica. Em Foz, eu percebi que é normal as pessoas andarem a 40km/h na pista da esquerda e que, consequentemente, é natural ultrapassar um carro pela direita. Em Foz, eu aprendi que o transporte coletivo em Florianópolis não era tão ruim assim (pelo menos lá os ônibus têm bancos!). Em Foz, eu aprendi que as Cataratas são, de fato, uma das 7 maravilhas da natureza. Em Foz, eu entendi que a língua portuguesa deveria fazer parte da minha profissão. Foz me ensinou que a ditadura ainda existe em algumas instituições privadas. Em Foz, eu percebi que a concessionária de transporte urbano acredita que as pessoas daqui não sentem calor, pois não há ar-condicionado em nenhum ônibus. Em Foz, eu aprendi que a máxima “quem faz a faculdade é o aluno” é o clichê mais verdadeiro dos últimos tempos.

Em Foz, eu aprendi a amar Machado de Assis e Capitu. Em Foz, eu percebi que os ônibus articulados fazem falta. Aqui, eu percebi, paradoxalmente, o quanto minha família é importante para mim, e o quanto, para minha maturidade, é importante estar distante deles. Em Foz, eu aprendi que o churrasco argentino é muito melhor do que o gaúcho – e olhem que eu sou gaúcha! Em Foz, eu aprendi a ser professora, pois aqui eu tive grandes mestres que me ensinaram esta arte. Em Foz, eu tive que lecionar para uma turma de 80 adolescentes e, depois disso, descobri que posso fazer qualquer coisa. Em Foz, eu aprendi que toda comida tem que ter alho – muito alho! Em Foz, eu descobri que as estradas argentinas e paraguaias são muito melhores do que as brasileiras. Em Foz, eu aprendi a gostar de homus, sfiha, sushi e sashimi. Foi em Foz que eu senti “na pele”, pela primeira vez, o assédio moral no trabalho. Mas, em contrapartida, foi em Foz que eu aprendi quem são os meus amigos de verdade. Em Foz, eu aprendi que precisava fazer os que os outros NÃO FAZIAM para conseguir o que poucos conseguem. Em Foz, eu aprendi que “laranja” nem sempre é uma fruta e que "sopa paraguaia" não é sopa.

Em Foz, eu senti meu coração completamente despedaçado e fiquei sem chão... duas vezes! Foz fez-me entender qual era hora de ir embora, não para buscar a felicidade fora daqui, mas para, longe daqui, reencontrar a mim mesma. Em Foz, eu aprendi que a separação é, muitas vezes, boa e necessária, mas foi em Chapecó que eu aprendi a ser mais tolerante... foi lá que eu entendi que precisava voltar. Depois que voltei a Foz, eu aprendi que mudar de ideia e “voltar atrás” nem sempre é um retrocesso, e sim um passo à frente.
Foi em Foz que eu conquistei minha independência e onde eu aprendi que ser feliz só depende de mim mesma. Em Foz, eu aprendi muito e continuo aprendendo, dia após dia. Obrigada, Foz do Iguaçu, por me ensinar tanto!


* Texto escrito em Janeiro de 2014